segunda-feira, 21 de setembro de 2009

COMO UMA BOA MENINA

Ela passou o fim de semana como uma pessoa normal.
Na sexta depois do trabalho voltou pra casa. “Claro, tava chovendo”, eles podem pensar, ok, estava chovendo mas e daí?
Então ela bebeu moderadamente em casa, sem exposições.
Foi dormir depois que terminou o Programa do Jô, viu a entrevista de um cenógrafo que faz cenários com coisas usadas, encontradas no lixo, no brechó ou doações. Lembrou da sua vontade de ser Artista Plástica. E antes disso ficou triste e preocupada com o analfabetismo no país.
No sábado acordou resfriada, tossindo, morrendo de dor de cabeça.
Foi trabalhar e chegou atrasada, estava mais interessada na festa de aniversário que tinha depois.
Se comportou bem na festa. Levou uma garrafa térmica de chá de gengibre, cravo, pimenta rosa e anis estrelado. E disfarçadamente calibrava a caneca de chá com cachaça. “Nossa, delícia de invenção”, ela pensava.
A festa foi se transformando de acordo com o grau etílico. Ali, entre os convidados 10 anos mais velhos que ela, pôde ver no que se transformaria se não resolvesse se cuidar a partir de segunda-feira.
A doida Magrela, por exemplo, insistia em chama-la de Julia e toda vez que ela avisava que não se chamava Julia, ela dizia “Mas deveria”. Depois a doida Magrela resolveu chama-la de Júpiter, “Ah, beleza, Júpiter é o planeta do meu signo”, “Viu! Eu sabia que você deveria se chamar Julia, porque Julia é Júpiter e Junho é Juno e Netuno é Peixes e Zeus é Júpiter. Zeus é Júpiter?” E perguntou pra dona da casa “Posso ligar a internet? Preciso descobrir se Zeus é Júpiter...”

E ela ali, observando no que se transformaria.
Nessa altura, o chá já tinha terminado e ela preparou um suco de maracujá e água de côco com as mesmas doses disfarçadas.
Viu a amiga da dona da festa ligando e convidando outra amiga, o casal discutindo a mania do outro de comer em cima da cama, o cineasta reclamando que o Cauã Reymond não tem agenda pra filmar, a menina linda reclamando das espinhas no rosto, o marido da aniversariante querendo que a festa terminasse logo, a outra disfarçada colocando o pedaço do bolo no cinzeiro.

A Magrela conseguiu irritar uma outra convidada de tanto insistir pra ela dançar, a garota ficou tão puta que pegou a bolsa e foi embora deixando a Magrela triste comendo cenoura com mel num canto e resmungando que era Ano Novo Judaico e que deveríamos comemorar porque éramos todos judeus.

Sim, ela estava meio doida mas totalmente comportada. Conseguia observar tudo com absoluta sanidade.
E na hora de se despedir, a Magrela pediu desculpas, “Desculpa, eu não entendo nada de nomes, foi tudo um delírio.... (pausa) Ou não”.

No domingo almoçou com a família, brincou com as crianças, procurou apartamento pra alugar e teve uma notícia tão boa no fim do dia que lembrando dos maus bocados que tem passado pensou “foi tudo um delírio....................................................... ou não?”

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