terça-feira, 25 de agosto de 2009

JOGO DE PETECA

Simples.
Com deslocamento.
Com contagem.
Com uma pessoa lendo Fernando Pessoa, que “poderia ser qualquer pessoa mas é Fernando”.

Fico ao lado dela no jogo mas ela é fominha com a peteca então fujo do lado dela quando é permitido o tal deslocamento.
Engraçado perceber o quanto a pessoa se desloca em função da peteca, que “poderia ser qualquer coisa mas é peteca”.
Morro de medo da peteca, como morria de medo de bolas quando era criança.

“e todo som produzido é, na verdade, continuação do som já existente... não existe silêncio...”

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sem título

Somos muito felizes.
Temos duas camas de casal King Size no quarto. Uma ao lado da outra, ambas de frente pro telão do Home Theater.
Mas, em frente a minha cama, bem junto aos pés dela, eu tenho uma mesinha de madeira escura com uma TV de 29” só pra mim.
E um fone de ouvido de ótima qualidade.

Poderá o amor resistir a uma incompatibilidade intelectual?

DEVAN(s)EIOS

Vendo meus seios, um é muito diferente do outro.

Vendo meus seios disformes, porém resistentes.
Disformes como o Dois Irmãos.

Um muito pra cima, outro muito pra baixo.
Chupados, lambidos, acariciados, mordidos e beliscados.
Um caído, outro durinho.
Duros bicos.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

CAPÍTULO 2

- Desculpa. Eu não to te entendendo.
- Ah não? Serei mais clara: Escreve um texto pra mim. Pra eu encenar.
- Ah... entendi.... Você é atriz?
- Atriz teza. A tristeza. Piada escrota.

(SILÊNCIO)

- Tá tudo bem com você?
- Caralho! Não deu pra entender ainda?

(SILÊNCIO)

- O que é que você acha? Você acha que eu to bem? Eu pareço bem?
- Olha mocinha, me desculpa mas eu não te conheço e não tenho a menor intenção de lidar com gente mal-educada como você. Com licença.

- Não! Pelo amor de Deus, desculpa. Não me deixa sozinha aqui.
- Solta meu braço por favor!
- Desculpa! Desculpa. Por favor.
Senta aqui.
Posso te oferecer um drink?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ESTRANHO MUNDO

"... Um dia subi no pombal e ao chacoalhar os ovos dois deles quebraram e de dentro saíram duas pombas monstruosas e deformadas e talvez pensando que eu fosse a mãe viraram na minha direção e abriram os bicos famintos e faziam um som estridente e agudo como se fosse um grito e depois um filhote comeu o outro..."

(trecho do conto O Marquês do Pombal de Thiago Picchi)

ENSAIO DE QUINTA

Descobri minha profissão: ficar parada.

Hoje trabalhei muito sozinha.



Cheguei atrasada. Quase de propósito. Quase.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

ENSAIO DE SEGUNDA

Minha deformação.
Vendo a minha deformação.
Sou toda.
A deformidade dos meus pensamentos.
Dos meus peitos.
A deformidade das relações superficiais.
Quero ser fútil.
Nada mais.
Eu não combino mais comigo. Quero me vender toda.
Não sei o preço. É impagável.
Apagável.
Por isso me entrego. Me dou e me corrôo. Me fôdo.
Me vendo por pouco. Me dou.
Porque preciso. Porque posso.

Não posso mais. No puedo más. Deixa-me. Parte.
Parte de mim. Quanto vale um pedaço de dor? De cor? De cór? Decoro. O coro. O chôro.
Choro.
No puedo más. No puedo más. Deixa-me imploro. O cloro. H2o. Vertigem. Afogo. Me afogo no fogo. O meu próprio. No puedo más. Deixa-me. Imploro. Vertigem. Enjôo. Minha digestão não é boa. Enjôo. Tenho gases. Peido. Não arroto. No puedo más. Meus seios disformes. Um pra cima, outro pra baixo. Tenho vergonha. Deixa-me. Não mais posso. Sinto muito prazer com meus seios disformes. Muito prazer. O prazer é meu. Tenho prazer quando quero. O prazer é meu. Me vendo toda. A dança dos sujos. Tenho alergia. Me afogo. Sou fogo. Fogo. Fogo. Fogo. Fogo. Fogo. Fogo. Apaga. Paga. Paga quanto? Quanto paga? Eu pago. Apago. Não tem preço. Não vendo. Ninguém pagou. Apagou. Meu fogo.

O autor

- Escreve um texto pra mim.
- Oi?
- Ah, sei lá... Escreve aí um texto pra mim.

(SILÊNCIO)

- Qualquer coisa.

(SILÊNCIO)

- Põe aí: “Ela era um talento. Fazia com vigor e sem exageros. Era viva e verdadeira.”
- Hum-hum.
- “Ela” sou eu tá?
- Hum-hum.
- Agora continua.

Precisa?

Gosto de Caio Fernando Abreu, Fernanda Young (desculpa), Manuel Bandeira, Nick Hornby, Nora Roberts, Sam Shepard, Nelson Rodrigues, Jorge Silva Melo, Clarice Lispector, Enrique Diaz, Zé Celso, Antunes Filho, Billy Holiday, Nina Simone, Frida Kahlo, Pedro Almodóvar, Caetano Veloso, Durval Discos, Bernardo Bertolucci, Cazuza e mais um monte de coisas e gente.

Não sei se gosto de fazer esse tipo de lista de "gosto" e "não gosto". Esse tipo de lista que a gente meio que se define pelas influências... Principalmente porque sou facilmente influenciada e porque nem sempre fui uma boa influência. Então comecei e lista e parei.

Eu gosto de ler listas dos outros.

O banho da mendiga

O banho da mendiga
O banho da mendiga foi um êxtase, um gozo de riso e choro. Uma axila masturbada por um dedo como se fosse uma buceta.
Uma mendiga banguela e bêbada com seu suposto mendigo companheiro.

O banho da mendiga


A dança dos sujos.. dos que nunca tomam banho... molhados dançam uma valsa..

Depois a vergonha de se ver nua esfrega seu corpo de baixo pra cima a fim de se secar, até transformar esse movimento em castigo, bate em si mesma... desesperada...

Morrendo de vergonha, morrendo de fome, morrendo de ressaca, morrendo de sede, morrendo de medo, morrendo de vergonha, morrendo de raiva, morrendo de ciúme, morrendo de saudade, morrendo de vergonha, morrendo de frio, morrendo de calor, morrendo de desejo, morrendo de raiva...

Vivendo de vergonha, vivendo de sede, vivendo de fome, vivendo de ressaca, vivendo de sujeira, vivendo de vergonha, vivendo de raiva, vivendo de culpa, vivendo de desejo, vivendo de prazer, vivendo de tesão, vivendo de ilusão....

A mendiga chora sua dor, afoga seu pranto,
Afoga seu pranto
Afoga seu pranto
Afoga seu pranto

Afoga-se
Vive-se
Vive-se como pode
Como pôde

O balé dos imundos
Sem reflexos

Algum veneno anti-monotonia
Anti-monogamia
Algum

Meus inimigos! Um brinde!
Eu sou forte

A mendiga tira sua roupa
Torce
Torce como se fosse um pescoço alheio
Depois sacode, chicoteia, sacode

E finalmente assopra
Como o vento
Como se capaz
Simplesmente assopra... brisa
Brisa leve....

E respira fundo.