terça-feira, 15 de setembro de 2009

Amanhã vou encontrar um amigo.
Ele é um dos poucos que sabe mais ou menos o que aconteceu comigo. Não dá pra eu fingir pra ele porque ele viu o começo de tudo. Ele me deu banho quando eu chorava com a calcinha arriada até a metade das pernas agachada no banheiro. Ele lavou a minha roupa toda suja de café. Ele me secou. Ele me abraçou. Ele perguntou se eu tava melhor no dia seguinte.
Antes disso ele dançou funk comigo. Ele soltou as pererecas comigo. Ele falou com sotaque paulista comigo.
Só de ouvir a voz dele eu tenho vontade de rir.
Ele viu o início da loucura e me devolveu a lucidez 4 meses depois quando me deu um tapa na cara.
Eu sei que o tapa não era pra mim, mas, de certa forma, eu mereci aquele tapa. Pra deixar de ser besta.

Nessa cidade eu fiz poucos amigos.
Eu conheço tanta gente e fiz poucos amigos.
Talvez eu também seja uma pessoa escorregadia.
Talvez o exercício da simpatia malandra também tenha me contagiado.
Eu to fazendo um trato comigo mesma de parar com isso.
De parar.
De sorrir só quando eu tiver vontade.

Eu tinha uma amiga de colégio que era muito diferente de mim mas a gente era amiga, amiga mesmo.
Eu sempre gostei muito dela daí a gente teve uma briga nem lembro por que e ela já adulta foi morar na Itália.
Quando ela voltou pro Brasil ela me procurou dizendo que queria ser atriz.
Eu tinha vontade de gargalhar na cara dela mas eu segurei a gargalhada e sorri dizendo “que legal, mas por que?”
Dois dias depois ela disse que não ia dar pra ser atriz porque
era muito caro fazer curso de televisão.

Outro dia uma garçonete que eu conheço falou pra mim “ai agora to num momento atriz” e na semana passada um amigo empresário que encontrei disse "virei ator".
Ta bem fácil assim. Qualquer um pode. E além disso o salário no teatro quando existe é uma merda, o cinema prefere não-atores e
a televisão só contrata modelo e gente ruim.


Comecei falando de amizade e acabei me queixando.
Tenho poucos amigos que não são artistas.
Talvez por isso.

É tão difícil continuar aqui nessa cidade.
Quando eu tiver coragem de desistir eu vou querer ir embora.

E quando eu desistir eu vou ter que achar um jeito de ser diferente de mim.

E quando eu desistir eu vou rezar pra que alguém chegue na cidade onde eu tiver me escondendo procurando por mim porque eu sou perfeita pra ser protagonista de um filme.
E tudo voltará a ser como era. E eu poderei de novo mergulhar em mim.

2 comentários:

  1. anissima, mesmo momento mesma palavras, mesmo pensamento.. saudades de você, tenho um habito muito ruim de nao ligar para que eu gosto
    vc desligou mesmo esse celular? to c aparelho novo, me liga..
    beijo da amiga stella

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  2. oiiii guria!

    achei lindo fazer parte do seu blog!

    nossa, tanta coisa interessante que tem escrito aqui, bacana demais mesmo!

    bjoss

    pablito

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