sábado, 30 de janeiro de 2010

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RAJGIR, 12 OU 13 DE JANEIRO.




Não tenho certeza que dia do mês é hoje mas sei que é terça-feira.

Estou em Rajgir, Bihar, acredito que o estado mais pobre da Índia. Tem menos poeira mas é feio.



Cheguei ontem de manhã e fui direto pro Pico dos Abutres, o pico mais inacreditável que eu já vi. Fui no ensinamento de um Lama que não dorme, tamanho o estágio de iluminação dele, sobre Vacuidade.



Nossa, to vendo TV e ta passando uma aula de yoga!!! Que legal! É um barbudão num palco dando aula com um aluno garotinho do lado e uma multidão fazendo!!! Vou parar pra assistir.



Ok, voltando a vacuidade e ao pico dos abutres.



No caminho pra lá eu pensei, “puta que saco, outro ensinamento de budista que eu não vo entender nada”.

Chegando lá tinha que subir no Pico, peguei um teleférico e assim que sentei na cadeirinha lembrei que não gosto de altura.

Ok, passou.

Lá em cima tem uma estupa bem bonita branca com 4 budas dourados.

Olhei e achei lindo daí andei um pouco e vi assim meio abaixo da onde eu tava o lugar onde o Budha meditava e onde seria o tal ensinamento.

Puta merda, me deu um desespero.

Imagina um monte de montanha e numa delas esse lugarzinho que é todo de grutas e cavernas. Bonito pra caralho. Comecei a chorar. Mas não era um choro normal era um desespero descontrolado. Eu vi que eu tava muito longe de “ me iluminar”. Sou cheia de vícios de pensamentos, cheia de falhas, preconceituosa, cheia de desejos mundanos... bem longe de uma mente pura....

Eu pensei “se iluminar aqui é fácil, queria ver se iluminar na minha pele”. Mas a verdade é que aquele pico tem uma vibe muito muito muito, mas muito mesmo, muito especial.

O monge disse que cada pessoa tem uma conexão diferente com cada lugar sagrado desses. Eu fiz uma lavagem lá. Lembro que pra chegar até esse altar, da onde eu tava, tinha que descer um caminho de pedras meio irregular e que parecia que eu tava andando por cima dos obstáculos todos da minha vida e que eu senti uma saudade de casa mas não era a minha casa era outra casa, como se fosse a casa da alma mesmo. Maior viagem.



Depois tudo se acalmou... Uma paz tomou conta e eu nunca senti nada igual.

E o ensinamento do tal Lama que não dorme foi o mais legal até agora. Uma boa surpresa.





Agora eu to no ônibus indo pra Patna.

Ontem de manhã fui nas ruínas de uma universidade de budismo, puta role chato. Pra mim ruína é só tijolo não tenho conexão com ruína e fiz yoga a tarde no bosque dos bambus, um bosque que um rei fez pro Budha. Bonito até. E fazer yoga ali foi ótimo, um por-do-sol, um altar de budha e um tapetinho.









Cheguei em Patna. Cidade grande e poluída. Hotel ruim. Índia preto e branco de novo.

Horas andando pra achar um restaurante razoável e quando eu entro com a galera brasileira a gente vira o prato principal dos indianos, todo mundo olha sem parar. Aqui definitivamente não é uma cidade turística. Uma mulher banguela sentada na primeira mesa ri desdentada pra gente e pede $ mostrando a banguela. Surreal.



Comi uma parada tri boa. Esqueci o nome, tipo uma panqueca indiana. Dosa eu acho.



Depois comprei CDs e um cachecol.



E fiz yoga da TV de novo. O mesmo cara. Vou descobrir quem é essa figura.













sexta, 16.1.10



Mais um role de ônibus. Hoje vou atravessar pro Nepal até Lumbini onde Budha nasceu.

De Patna fui pra Kushinagar onde ele morreu. E no meio do caminho parei em Vaishali pra ver um parque onde ele deu uns ensinamentos e uma estupa.



Em Kushinagar tem uma estátua de budha deitado. Dizem que foi assim que ele deixou a terra deitando tranquilamente do lado direito aos 80 e poucos anos. Postura do leão dormindo.



E ontem a noite tive uma boa conversa com o monge sobre essa tal de iluminação.

A parada é reconhecer que a gente já é iluminado, que a natureza da mente não é angústia e sim felicidade.

E como sou adepta do caminho do meio depois desse papo todo tomei vodka.

Maior esquema arrumar álcool por aqui.

O João, um coroa que ta viajando junto, fez um esquema com o porteiro do hotel que fez um esquema com um motoqueiro que por uma boa gorjeta foi no supermercado comprar. Esse cara, o João, é um figura, ele é budista e mora na comunidade budista de Viamão mas tem a língua solta... meteu o pau nos role dos budista.. e ainda disse que duvida que o monge brasileiro vai ficar no monastério por muito tempo, duvida que ele vai ficar tanto tempo sem dar uns amasso... dei risada.. sei lá.. acho que duvido também... O monge é bem jovem, cuca fresca, bonito... vai saber...

Celibato é foda.

Mas o monge é legal. Bem legal.



No mais é isso.

Muita reflexão, muita emoção, muita intensidade.

Altos visuais.



Esqueci de contar que fui na casa de uma família indiana num vilarejo desses. Depois vou lembrar do nome do lugar. Mas foi lindo. O monge ficou rezando numa ruína dessas e eu dei uma escapada. Sei que elas pentearam meu cabelo, colocaram óleo, pintaram um risco vermelho e colocaram o bindi. E várias crianças junto... good vibes..

Só que o óleo tinha um cheiro de Aloe vera misturado com alguma coisa doce que depois eu tive que ficar cheirando por horas dentro do ônibus até chegar em Kushinagar. E ainda por cima fiquei menstruada.

Tudo bem, tudo tem um preço nessa vida.



E nesse mesmo dia no ônibus eu chorei um pouco. Medo de voltar pra casa. Pra vida do Brasil.





Vaishali foi o lugar onde Budha deu o último ensinamento. Onde tem um pilar com um leão em cima e onde eu fui na casa das indianas. E lá visitei 3 pontos de peregrinos budistas. As ruínas do monastério do último ensinamento, onde escapei da prática, um parque onde é dito que macacos ofereceram mel ao budha e uma estupa bem bonita que ficava do outro lado do rio desse parque.





terça-feira,



Tava lembrando aqui que quando eu tava deprimida o que eu mais queria era entrar num ônibus e andar horas por uma estrada qualquer.

E agora aqui estou há 5 ou 6 dias passando 6,7, 8, 9 horas viajando de ônibus pela índia. Quem diria..

As estradas aqui são muito loucas, de uma hora pra outra a estrada vira uma ruazinha de um vilarejo cheio de coisas, barraquinhas, vaca, gente, cachorro... e as vezes a gente tem que desviar dos motoristas que ficam cansados e param no meio do caminho pra um cochilo pq não existe acostamento aqui. Xixi no mato, buraco, sacolejo de ônibus, muito tempo pra pensar na vida, pra olhar pela janela...



Estou indo de Kanpur pra Agra e no meio do caminho vou parar por 2 horas pra uma meditação num lugar onde o budha fez alguns milagres... parece coisa de católico mas não é...



Fico ouvindo música, pensando em cada coisa que eu desejei e realizei, em cada desejo que é ainda desejo, pensando no amor, no cara incrível que ta sempre do meu lado apesar de ser meio egoísta as vezes, nas minhas amigas, na minha família, na minha cachorra, no Brasil, na humanidade, em Budha, em Deus...

Na maioria do tempo to em paz. As vezes cansada, enjoada, de bode de ver ruína, com frio... e quase sempre acabo me convencendo que a realidade é altamente relativa.



E tenho tido sonhos alucinados, to sonhando muito, tudo muito louco.







Sankisia, o paraíso intocado.



Desci nesse lugarzinho onde Budha perdeu as botas... lindo, lindo, uma energia pura pairando.... tava andando em direção ao lugarzinho sagrado e ouvi vários tambores e vários caras andando, pensei que era uma procissão mas era uma cremação, as mulheres não participam só os homens acompanhando o corpo sustentado e coberto de flores e um pano branco.

Uma sanga de 5 monges bem velhinhos nos acompanharam até um morro bem baixinho com uma estupinha do tamanho de uma casa de boneca.

Um sol lindo, um visual rural sem pobreza com muito verde, muito pássaro e no caminho de volta 3 antílopes. Inacreditável.



Uma boa yoga, uma boa meditação. Um bom fim de tarde.

E viva a impermanencia que ontem me fez exausta e hoje me faz plena.



Sigo de ônibus a caminho de Agra.

Com fé que vai dar pé.

Um comentário:

  1. Que saudades e que maravilha poder acompanhar essa trip pela internet.
    Mil bjs!!!

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